Do Limbo para as redes



"Qualquer cidadão consciente que pretende ir às ruas irá fazê-lo, no mínimo, para exigir a devolução do poder ao povo, isto é, a realização de novas eleições. Eleições gerais, pois de nada adianta renovar o executivo e preservar um congresso de corruptos e covardes, que tornará refém qualquer novo presidente, como vem fazendo nos últimos anos. O cidadão consciente irá deixar claro que o ambiente político nacional está corroído e se tornou insustentável, sendo necessárias reformas profundas, não para fugir da política, único mecanismo capaz de construir sociedades saudáveis, mas para salvá-la e aperfeiçoá-la. Não é possível que, no atual momento de instabilidade democrática e institucional, de sérias ameaças a direitos e conquistas, aquela parcela altamente influenciável da classe média vai cair de novo na conversa fiada daqueles grupelhos que estão planejando fazer um ato de apoio à organização que tomou o poder à revelia da população para impor interesses bastante particulares. Grupos como MBL, VemPraRua, MCC, Revoltados Online, alguns dos quais foram pegos recebendo grana dessa estrutura e que estão se lixando para a corrupção que alegavam combater. Que pretendem continuar insistindo em um partidarismo inócuo e quase infantil. Donos de patos de borracha que saquearam dinheiro público e pretendem deixar toda a conta para o trabalhador. Que almejam destruir programas essenciais, como se estes fossem mera despesa desnecessária, e não alguns dos raros mecanismos que evitam que gerações inteiras se percam no subdesenvolvimento físico e mental decorrentes da desnutrição e na completa falta de perspectivas. Que trouxeram para o centro do poder toda aquela corrupção histórica que sempre o rodeou. E que querem restringir até o acesso à educação e a formação de cidadãos críticos e conscientes. A sorte daqueles que pretendem ir às ruas no dia 31 é que, desta vez, estarão presentes vários grupos diferentes, com os mais variados pensamentos e alinhamentos, e que poderão abafar o “Avante Temer” que esses grupelhos de vendidos pretendem entoar e que ainda contém em seu interior, inevitavelmente, um “Avante Cunha”. Basta um mínimo de reflexão para escolher o lado certo: o da democracia."
(29.Jul.2016)

"As velhas raposas corruptas, os sonegadores contumazes, a elite vira-latas, os donos do dinheiro, que sempre quiseram tudo como sempre foi, solicitaram: “Queremos nosso país de volta!”. A classe média subalterna, que lhes lambe as botas e que tem a ilusão de que são aliados, prontamente fez o que precisava para atender à solicitação: “Tomem, ó senhores, o país que sempre foi seu! Retirem dele tudo aquilo que desejarem, como sempre fizeram!”. A mídia, braço deles, claro, tratou logo de garantir a tranquilidade da transação. Tudo no mais puro clima de legalidade e normalidade. Como sempre fizeram. Como sempre fizeram."
(27.Jul.2016)

"E no meio de toda a confusão, ainda tem aqueles dispostos a tomar medidas que prejudicam outras pessoas, mas que não beneficiam ninguém. Nem uma alma sequer. Um grupo de deputados dos partidos PRB, PSDB, DEM, PV, PR, PHS, PSC, PSB, PROS e PTN apresentou um Projeto de Decreto Legislativo para suspender a possibilidade de uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais. Qual o sentido disso?! Retrocesso gratuito de direitos? Taí a cara da nossa direita."
(21.Mai.2016)

"No Brasil de 2016, intelectual, artista, sem terra, sem teto, professor, cientista, índio, negro, homossexual, jurista... São todos párias. Escória a ser amordaçada e, se possível, exterminada. Se for de esquerda, então, nem fale! A nação está sendo devolvida aos homens bons. E bom mesmo é pastor evangélico, policial truculento, fazendeiro escravagista, diplomata de porrete, colunista macartista, deputado achacador, jornalão chapa-branca, empresário vampiro, sindicalista pelego, juiz justiceiro. De preferência homem, branco, hétero, rico. Esse país vai longe! Só que pra trás."
(19.Mai.2016)

"Um governo ilegítimo, um país sem leis. Segurança jurírica e institucional em frangalhos. Temer exonera o presidente da EBC, atropelando a lei 11.652/2008, que prevê mandato de quatro anos para o cargo. O dispositivo existe justamente para garantir a independência do órgão em relação aos governos. A intenção do interino parece óbvia: fazer o mesmo que Cunha havia feito com a TV Câmara, isto é, conduzir com mãos de ferro, censurar programas e usar a TV Brasil, que é pública, e não estatal, a favor do golpe. Reserva-se à TV Brasil destino semelhante ao que os tucanos impuseram à TV Cultura em São Paulo. Triste. É por essas e outras que a imprensa internacional não cansa de denunciar a exceção, as agências de risco já recomendam desconfiança quanto ao país e vários países estudam não reconhecer o governo. A justiça reverterá este novo atentado?"
P.S.: Após algum tempo, a justiça reverteu a decisão e derrubou essa que foi apenas uma das muitas arbitrariedades do governo interino.
(19.Mai.2016)

"Golpistas, assumam sua responsabilidade daqui em diante. Não vão esconder-se agora atrás de desculpas tolas. Quem votou em Dilma, elegeu Temer para que fosse vice, e não para que conspirasse contra a República. Quem fez de tudo para que ele tomasse de assalto o poder foram vocês, os golpistas. Temer traiu Dilma. E essa traição foi auxiliada e estimulada por todos os golpistas. O voto é um direito do cidadão. Um momento no qual nos é permitido escolher entre algumas poucas opções de forma soberana, sem pressões ou restrições. Democracia é inquestionável. Golpe não. Golpe é ruptura institucional. É anormalidade. Quem estimulou e promoveu (e torceu, e berrou) tem o dever de assumir sua responsabilidade. Neste momento, o que menos precisamos é de covardia."
(14.Mai.2016)

"A comemoração dos jornalões é vergonhosa. Nem se pode dizer que revela ou reforça algo, pois, a essa altura, todos já têm certeza de que eles apoiaram o golpe. O que é possível concluir é que é preciso ter muita cautela daqui para frente, visto que a grande mídia, um dos braços da plutocracia, tem lado e defende sem pudor seus próprios interesses. As manchetes variaram de "PT nunca mais" a "A chance de Temer de superar uma crise histórica e encerrar a era do PT no poder". Não faltou nem um "Agora é Lulia", em referência ao sobrenome do eterno vice conspirador. Crise? Esta palavra já está desaparecendo, conforme esperado. Os colunistas já falam que "basta ter confiança para o Brasil melhorar", contrastando com a extrema má vontade e o pessimismo empregados contra Dilma."
(14.Mai.2016)

"Quem não ganha eleição se contenta com golpe. E ainda consegue comemorar."
(14.Mai.2016)

"Ninguém está dizendo que queimar pneus e fechar vias é democracia. Isso é apenas uma reação ao golpe. Democracia foi quando Dilma venceu as eleições."
(14.Mai.2016)

"Enquanto a imprensa internacional denuncia o golpe, a mídia nativa, por ser parte dele, segue presa a seu ponto de vista único e nos "brinda" com a opinião da oposição sobre o discurso de Dilma na ONU. Qual o interesse pela opinião dos golpistas sobre qualquer ação da presidente? Dizem eles que ela teve "bom senso". Ora! Dilma teve muito mais que "bom senso". Ela foi, simplesmente, maior do que os corruptos conspiradores, como sempre tem sido. Enquanto eles se borravam e tentavam negar antecipadamente as denúncias que a presidente poderia fazer, ela se comportou à altura do cargo, ao contrário de todos eles, e usou o púlpito para o devido propósito."
(23.Abr.2016)

"A sociedade ainda vai descobrir que o problema não é a existência de incontáveis casos de corrupção, revelados por uma justiça cada vez mais independente e atuante. Problema mesmo é quando você nem fica sabendo da existência desses casos. A grande tragédia é que, para chegar a essa descoberta, a sociedade está prestes a pagar um preço extremamente alto. Espero que haja um despertar de consciência e que todos pressionem seus representantes para barrar, hoje, a ruptura que se anuncia."
(17.Abr.2016)

"A própria disputa por votos noticiada diuturnamente pela imprensa, com intensas negociações, é a maior prova de que o instituto do “impeachment” está sendo utilizado politicamente, e não para seus propósitos originais. É justamente aí que está o atentado á democracia. Ninguém está discutindo o mérito de uma acusação de crime de responsabilidade, a fim de decidir por sua admissibilidade ou rejeição. O que está havendo é uma espécie de campanha para eleições indiretas. Kassab, em sua carta de demissão, diz a Dilma que, apesar da posição de seu partido em favor da ruptura, tem convicção "da sua integridade pessoal, de seu compromisso democrático com nosso País e de sua serenidade diante de tantas adversidades". Fica claro, portanto, o desvio de finalidade do instituto do impedimento e sua utilização como ferramenta política. Com propósitos escusos, diga-se de passagem."
(17.Abr.2016)

"Não é difícil perceber que, neste momento, a corrupção está do lado daqueles que querem dar o golpe, e não na presidente que pretendem derrubar. Os partidos com maior envolvimento nos escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato (o PP e o PMDB) pularam para fora do governo. E o fizeram para tentar derrubar a presidente. Com que propósitos? São óbvios, ora! Uma horda de corruptos deixa o governo para tentar derrubá-lo! Por quê? Pesquisem pelas listas que classificam os partidos de acordo com a quantidade de políticos cassados por corrupção e barrados pela Lei da Ficha Limpa. Em ambas as listas, o PMDB figura nas primeiras posições, bem à frente do PT. E o PSDB e o PP também estão lá na frente, próximos ao PMDB. Na lista de barrados por ficha suja, o PSDB está até à frente do PMDB. É claro que o PT também possui seus problemas, muito semelhantes aos dos outros partidos, mas a realidade está muito distante da versão que tenta passar a impressão de que todos os problemas que enfrentamos devem-se a um único partido."
(17.Abr.2016)

"Michel Temer e o Jornal Nacional agem como se o que estivesse em jogo fosse uma espécie de eleição indireta. O vice conspirador acusa a presidente de mentir de forma rasteira sobre a continuidade de programas sociais. E o jornal divulga naturalmente, como se estivéssemos em campanha. Como se tudo não passasse de uma disputa entre Dilma e Temer. Escondem que o que está em andamento é uma tentativa de ruptura institucional! E não há coisa mais rasteira do que um golpe! Principalmente se for um golpe como esse: conduzido por um bando de corruptos e conspiradores contra uma presidente que não cometeu crime algum. E aí o Senhor Temer vem falar em mentira rasteira? Ah, tenha santa paciência! Mentira rasteira é dizer que o golpe não é golpe. Mas o que esperar de uma mídia que vem escondendo as acusações contra os conspiradores, justamente para disfarçar o caráter nefasto do golpe? Chegaram a interromper a transmissão durante os discursos mais contundentes contra Cunha, como denunciou a deputada Erundina. Para completar, o crítico de cinema Pablo Villaça trouxe informação importante: “Há relatos confiáveis de que pessoas de sobrenome Marinho estão ligando para deputados para pressionar pelo voto pró-impeachment”. Frente ao que temos observado, fica difícil duvidar."
(17.Abr.2016)

"Não consigo ver com bons olhos o processo de impedimento em andamento. Não vejo nenhum avanço, muito menos salvação. Mas o pior é que percebo exatamente o contrário. Ele é conduzido por um dos políticos mais corruptos do país, se não o mais corrupto, Eduardo Cunha. É tramado por um covarde conspirador, Michel Temer, que o encara como uma eleição indireta através da qual pode chegar ao poder. É apoiado por figuras pequenas, mas com muitos interesses, como Paulinho da Força, Caiado, Bolsonaro. É incentivado por uma oposição incapaz de aceitar as sucessivas derrotas a que foi submetida e que vê as investigações finalmente batendo em seus calcanhares. E é direcionado à derrubada de uma governante democraticamente eleita que não é acusada de nenhum crime, tendo como desculpa uma questão de execução orçamentária que nunca teria sido utilizada contra nenhum outro governante e que, certamente, não será utilizada contra nenhum governador que tenha recorrido a expedientes semelhantes.

Fica escancarado, portanto, que isso não tem nada a ver com combate à corrupção ou com a construção de um país melhor, mas sim com uma intensa disputa política, que ameaça ultrapassar os limites da democracia, do Estado de Direito e da normalidade institucional, deixando um legado obscuro e imprevisível.

O golpe não está na questão jurídica. Esta é apenas a desculpa. O golpe é observado na cronologia, nos atores e no contexto do processo. Ele começa antes mesmo da definição da questão jurídica, pois a intenção veio bem antes do surgimento da desculpa. Veio antes até do início do mandato. Começou quando Aécio Neves, hoje bem menor do que naquele momento, recusou-se a admitir a derrota e incentivou a continuidade da disputa eleitoral. Agravou-se quando Eduardo Cunha, acuado e ameaçado, aceitou o pedido de impedimento do mandato presidencial para se safar. O que tem dado certo, pois está aí até hoje. Dificilmente um pedido dessa natureza teria sido aceito de modo tão casuísta por algum outro deputado. E, mesmo assim, a mídia ainda trata a atuação de Cunha à frente de seu cargo com absurda normalidade. Tratamento estranhamente diferente daquele dispensado à presidente Dilma.

Em seguida, a adesão de Temer e seus interesses bastante particulares ajudou a nos trazer ao presente cenário. Mas não precisava ter sido assim. O governo tem sua parte de responsabilidade, mas a oposição poderia ter simplesmente explorado suas falhas para tentar obter um resultado favorável nas próximas eleições. Ao invés disso, preferiu apostar no caos.

A estranheza diminui, no entanto, quando constatamos que os verdadeiros detentores do poder vêm aplicando uma sequência de golpes desde a “redemocratização”. Começou com as eleições indiretas. Seguiu para eleições diretas cuja campanha contou com o forte envolvimento da mídia, que fez campanha descarada, manipulou debate, forjou partidarismo num sequestro e explorou até aborto, com a desculpa (esfarrapada, como veremos a seguir) da inexperiência. Logo depois, contrariada, a plutocracia cuidou de derrubar o primeiro presidente eleito diretamente. Um pouco mais à frente, mudou as regras para um mandato em andamento, algo que seria inusitado mesmo no conturbado momento atual, para permitir a reeleição de FHC. E o fez através de uma escandalosa compra de apoio parlamentar. Para garantir o sucesso da empreitada, a campanha que se seguiu, de modo excepcional, não contou com nenhum debate televisivo. O padrão de comportamento continuou após a primeira eleição de Lula, mas não com o mesmo sucesso. Veja-se a ofensiva durante a campanha da reeleição, denunciada por experientes jornalistas que chegaram a deixar seus empregos por conta do extremo desequilíbrio da cobertura. Porém, após tanto tempo dividindo o poder com uma corrente que conseguiu distribuir algumas migalhas aos menos favorecidos, o verdadeiro centro do poder decidiu golpear a normalidade mais uma vez.

Quanto estendemos a linha do tempo para o passado para incluir as rupturas anteriores, que culminaram nos anos de ditadura, percebemos que nosso regime nunca foi direcionado pela vontade popular, mas por algo muito mais restrito. E, se voltamos os olhares para o futuro, vemos que o cenário pintado pelas medidas do tal "Plano Temer" não é nada agradável.

Essa é nossa "democracia", entrecortada por rupturas constantes. Mas o corte agora proposto tem atraído mais atenção, visto que seus condutores não conseguem esconder os verdadeiros objetivos. E por isso despertaram uma forte reação da intelectualidade, dos meios artístico e jurídico, dos representantes de inúmeros setores e de boa parcela da população. Espero, sinceramente, que essa reação seja capaz de frear o golpe e forçar a necessária repactuação. Afinal, se considerarmos que a ânsia e o desespero dos golpistas, logicamente, não é apenas para vestirem uma faixa e se sentarem numa cadeira, podemos esperar grande descontentamento com as canetadas que, certamente, já estão planejadas."
(13.Abr.2016)

"O pior do golpe em andamento, além da entrega do país nas mãos do que há de mais podre na política de forma nada democrática, é o que ele deixará de legado para nossa democracia, se é que ainda poderemos assim chamá-la. A banalização do expediente do impedimento, sem uma base jurídica que o justifique, deixará nossas instituições destruídas. Nossas eleições serão apenas uma grande mentira, uma encenação da farsa da soberania popular. A plutocracia terá a certeza de que poderá sempre colocar no poder os representantes de seus interesses, a qualquer tempo. Não esperem, nunca, nenhum tipo de normalidade, estabilidade ou confiança. Pode levar algum tempo, mas o país, arrasado, acabará descobrindo que as consequências terão ido muito além da tola ilusão um dia sustentada."
(30.Mar.2016)

"Senhor Deputado,
As vozes que aderiram ao impeachment não são as únicas vozes das ruas e estão longe de representar os anseios de toda a sociedade. Começam a ficar cada vez mais fortes os indícios de que aqueles que tramam a ruptura democrática estão envolvidos em graves atos ilícitos e desejam apenas um atalho para o poder. Aquele que dita o ritmo do processo de impedimento, inclusive, demonstra ser um dos piores em termos de ética, tendo movimentado milhões em contas ilegais no exterior. E, mesmo assim, vai tocando adiante uma peça que procura criminalizar uma mera questão de execução orçamentária.

Multiplicam-se pelo país os manifestos em defesa da democracia. Artistas, médicos, jornalistas, acadêmicos, advogados, estudantes, intelectuais, juristas de respeito... Diversas categorias se organizam para defender a legalidade. Os atos em favor da preservação da soberania popular têm atraído mais e mais pessoas a cada edição.

Fico a imaginar de que modo um governo arquitetado de forma tão oportunista conseguirá convencer o país e o mundo a respeito de sua legitimidade em um cenário tão complexo. Não consigo imaginar como a atual oposição conseguirá lidar com a vergonha de ter cavado sua passagem para o poder através de expediente tão desonroso.

Preocupa-me o tipo de “democracia” que nos restará caso as tenebrosas figuras que operam em favor da ruptura consigam seus intentos. Assustam-me os atritos sociais que, certamente, permanecerão e, possivelmente, serão ampliados. Nosso ainda jovem e imaturo regime de soberania popular não merece golpe tão cruel. Uso aqui a palavra golpe no sentido de pancada, batida, mas também com o significado de estratagema, de derrubada forçada de um governo, apesar da confusão deliberada que tentam criar entre uma definição geral e um caso específico. Afinal, o impeachment é sim um instrumento constitucional, desde que haja um sério crime de responsabilidade que o embase, tendo em vista que um instituto tão importante dentro dos regimes democráticos não pode ser banalizado.

A própria proliferação de investidas em série em busca de motivos que justifiquem a ação, numa espécie de jogo de tentativa e erro, é a maior evidência de que não há base legal para o pretendido. O fato de a pressão de certos setores ter começado mesmo antes do início do mandato, impulsionada de modo irresponsável por figuras que depois perderam relevância mesmo entre aqueles que por eles foram incitados, também denuncia a fragilidade do processo. Os apelos pela renúncia, idem. Ademais, é impossível ignorar a influência de uma imprensa tradicional que optou por um perceptível grau de desequilíbrio e alguns exageros do judiciário que, finalmente, começam a ser apontados e tratados pelas instâncias superiores.

Por isso, peço encarecidamente ao Deputado, que possui grande responsabilidade sobre a normalidade e a estabilidade institucionais, que rejeite o impeachment e, em seguida, contribua para que o órgão do qual faz parte volte seus esforços para as ações realmente importantes, quais sejam as medidas que devem ser apreciadas para que a crise econômica seja solucionada e para que tenhamos um país melhor no futuro. Superado o presente impasse, espero que o governo e o poder legislativo tenham a capacidade de celebrar um pacto pelo país, sem abandonar, é claro, as divergências de opinião e o direito de exercício da oposição."
(29.Mar.2016)

"O que o grampo do telefone de Lula revelou é que ele fala palavrão, ouve e faz brincadeiras de mau gosto e não poupa críticas àqueles com os quais está contrariado. Nada diferente da maioria das pessoas que habitam o planeta Terra. O segundo maior problema dos grampos, depois de ter divulgado conversas particulares da Presidente da República, foi ter exposto desnecessariamente a privacidade do ex-presidente. Isso só serviu para, na falta de provas de práticas ilícitas, tentar desgastar a imagem de Lula, com o apoio irrestrito da grande imprensa. A justificativa foi a de que a divulgação seria de interesse público. Ora, nada mais falso! Se ali não há nada que confirme crimes, então não havia nenhuma necessidade de publicidade, ainda mais da forma reativa como feita, em claro ato de retaliação! Se há interesse público nisso, então também há interesse na escuta e na divulgação das conversas de todos os políticos! O que teríamos, certamente, seriam áudios de conteúdo muito semelhante ao desses que estão sendo divulgados. O grande engano nas tentativas de criminalizar o que os áudios de Lula revelam pode estar no fato de que seus acusadores partem do pressuposto de que ele é culpado de tudo aquilo de que é acusado. Entretanto, no presente momento, diante da falta de qualquer comprovação, para a justiça, Lula é inocente. E, se isso for verdade, seu comportamento é exatamente o esperado de uma pessoa que está sendo perseguida devido a crimes que sabe que não cometeu: aponta falhas nas instituições, reclama das atitudes persecutórias, critica agentes envolvidos na armação, estranha a inação de figuras cruciais, manifesta indignação e revolta contra o estado das coisas. No texto que postei antes desse, apontei vários trechos das conversas que são favoráveis a Lula. Hoje ouvi mais alguns áudios e pude constatar que Lula recusou durante um bom tempo a oferta do ministério, que estava sendo proposta até por amigos sem ligação direta com o governo, inclusive como possível impulsora da resolução das crises política e econômica. Como sabemos, ele acabou cedendo aos clamores em algum momento. Impossível ter certeza de sua culpabilidade ou inocência sobre algum ato, mas o desequilíbrio político causado pela dobradinha mídia-justiça está evidente. A provocação de tanto barulho num momento em que as investigações finalmente começavam a atingir outros partidos e governos parece reforçar a tese de que o interesse no golpe resulta da intenção de algumas correntes em interromper o avanço das operações de combate à corrupção."
(18.Mar.2016)

"Então o juiz liberou geral, sem um motivo jurídico claro, várias conversas grampeadas do ex-presidente Lula, algumas delas com a Presidente da República. Parece haver algo errado aí, mas é importante analisar o conteúdo das gravações. Mas eis que nelas não encontramos nenhum indício de prática criminosa, pelo menos nenhum indício muito aparente, bem como não havia na investigação nenhuma comprovação de práticas desse tipo. Nenhuma conversa de Lula falando sobre maracutaias. Tem Lula desabafando, reclamando, se indignando, apontando abusos e até conversando sobre soluções para a economia. Tem até vários trechos que o favorecem e ajudam a inocentá-lo, como quando diz que “não teme as investigações” e que nunca iria para o governo só para se proteger. Diz ele em um dos áudios: “Podem investigar minha conta na casa do caralho que não tem um centavo. Esses caras sabem que não tenho apartamento, que não tenho chácara”. Esses trechos, claro, não foram destacados no Jornal Nacional. O que dá para perceber é que ele fala muito palavrão e pega pesado ao se referir a outros políticos e até a ministros do STF, mas acho que isso ainda não é crime. O mais espantoso do dia, no entanto, foi o comportamento da Rede Globo, abrindo espaço para um único ponto de vista, ignorando várias arbitrariedades e focando todos os seus esforços em causar comoção social e tocar fogo no país, praticamente convocando manifestações. Manifestações essas que registraram casos de violência contra pessoas não envolvidas nas mesmas, deixando um alerta sobre algo que pode acabar se agravando. Estaria a Globo disposta a fazer alguns cadáveres na busca de seu intento? Chegaram a fazer ilações mil sobre um curtíssimo diálogo ocorrido no mesmo dia e captado após o horário de encerramento do grampo. Deixo um link para um áudio de cerca de oito minutos com uma conversa entre Lula e Dilma. Aquela que tinha sido parcialmente captada no vídeo de Jandira Feghali, logo após o episódio da condução coercitiva. Ele evidencia, inclusive, que não havia, naquele momento, nenhuma negociação sobre o ministério. Ouçam e tirem suas conclusões: https://soundcloud.com/tcantizani/audio-de-lula-e-dilma "
(18.Mar.2016)

"Ainda bem que, frente à pluralidade proporcionada pela internet, um editorial do Estadão revela-se tão somente como o que realmente é: a opinião dos donos do jornal, cujos alinhamentos políticos são bem conhecidos e cujos interesses são bem diferentes daqueles da maioria da sociedade. Uma opinião que não vale mais do que tantas outras expressas nas redes sociais e nos mais diferentes blogues e portais, dos mais diferentes alinhamentos. O jornal pode até tentar reescrever a história e negar os avanços dos últimos anos, incluindo aí as melhorias nos órgãos e instrumentos de combate à corrupção. Porém, isso não se torna automaticamente um consenso na opinião pública, principalmente por não encontrar amparo na realidade, pois temos vários outros canais a nos lembrar que as coisas não são bem assim e que há outros pontos de vista. O grande ganho trazido pela internet foi esse: equilibrar um pouco o poder que ficava monopolizado nas mãos de uns poucos barões e que lhes havia sido concedido de modo nada democrático durante o período mais tenebroso da recente história política do país."
(15.Fev.2016)

"Pô, imprensa! Tá errando demais! Assim fica difícil. Um erro aqui e outro ali são até aceitáveis, mas, do jeito que está, fica parecendo que há intenções ocultas influenciando a produção de deslizes em série: seja a busca incessante pelo furo comercialmente vantajoso ou uma indisfarçável militância ideológica. É preciso ter mais cuidado! Com tantas barrigadas, a credibilidade fica seriamente comprometida, o que não é bom para ninguém, visto que, no atual cenário de transição, a imprensa tradicional ainda tem sua importância. Digo isso com certo pesar, mas um suicídio neste momento, involuntário ou deliberado, antes de uma maior consolidação das bases desse novo ambiente mais plural e colaborativo, deixaria um vácuo prejudicial ao necessário fluxo de informações de qualidade. Ou, quem sabe, aceleraria o surgimento de uma nova configuração, mesmo que aos trancos e barrancos. A verdade é que seria muito bom se os interesses ficassem o mais distante possível das notícias e se os espaços para análise fossem mais equilibrados, principalmente nas redações profissionais."
(28.Dez.2015)

"Tem gente que acha que está fazendo bonito e lutando pelo país ao defender a derrubada de uma presidente democraticamente eleita. Todos têm o direito de manifestar sua opinião, isso é sagrado! E isso só é possível porque vivemos num regime democrático. Repleto de falhas e distorções, é verdade, mas em constante amadurecimento. Mas acho que quem realmente incorpora os princípios daqueles que, num passado não tão remoto, lutaram contra a repressão e depois pressionaram pelas eleições diretas são, hoje, aqueles que se manifestam pelo respeito à escolha das urnas. E digo isso porque a democracia está acima de qualquer picuinha, de qualquer partidarismo, de qualquer discordância política, de qualquer plano econômico mal conduzido (ou atrapalhado por forças externas ao Poder Executivo). É claro que há radicais, malucos e ignorantes por todos os lados, mas quando vejo as pregações cheias de ódio de pessoas que não aceitam o contraditório e que desejam apenas impor suas vontades e visões, e de outro lado vejo as declarações ponderadas daqueles que apenas expõem seu ponto de vista e defendem o respeito às instituições, sinto que não há como ficar do lado da turminha de Cunha, Paulinho da Força e tantos outros indiciados por falcatruas, além de Aécio e companhia e seus choramingos iniciados desde a divulgação dos resultados das urnas, e também daqueles pequenos grupos com um quê de fascismo, que vivem a vender buzinas e bonés para cidadãos ingênuos e a pedir doações para sua autoproclamada cruzada do bem contra o mal, amparada pelas forças dos céus."
(16.Dez.2015)

"Está havendo confusão ou má fé: não se está qualificando o mérito do pedido de “impeachment” com base na reputação de quem o disparou. Muito menos com base na reputação de quem o redigiu. Cabe aqui, aliás, uma correção: Hélio Bicudo não é um dos fundadores do PT. Ele deixou isso bem claro em uma entrevista e os jornais publicaram várias de suas famosas notas de “erramos” corrigindo a informação. Mas, e se ele tivesse participado da fundação? Nada mudaria em relação ao mérito da peça. O que vários juristas de renome estão dizendo é que os fundamentos do pedido são extremamente frágeis. Até a imprensa internacional e juristas mais ligados à direita têm concordado. E, já que o pessoal gosta de fundadores, destaco que até Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda e um dos fundadores do PSDB, que deixou o partido e tem criticado os ex-colegas por seus alinhamentos ideológicos e comportamento irresponsável, opinou que esse processo já nasce morto.

O que está sendo dito é que o embasamento do processo é tão frágil, que um pedido como esse jamais teria prosseguido em um cenário, digamos, mais “normal”. Não há como ignorar que a manobra foi iniciada em um ambiente de achaque e chantagem, por um corrupto notório que intencionava a vingança pessoal e o desvio do foco. Por mais que o mérito do pedido possa e deva ser discutido no devido rito, a desmoralização é inegável. Ainda mais se considerarmos que esse espetáculo grotesco começou bem antes, com o chororô e mimimi que Aécio e parte da oposição vêm manifestando desde o dia em que perderam as eleições. Não há como ignorar também a sustentação que a oposição deu ao bandido durante muito tempo, mesmo conhecendo bem seu passado de corrupção. Cunha foi conduzido a cargo tão importante com vistas à desestabilização. E, manobra após manobra, vai direcionado o processo e segurando o próprio mandato. É impossível não considerar que, em um ambiente com menos bandidagem e menos anseios ilegítimos, esse tipo de pedido poderia ter sido considerado mera banalidade, como sempre foi em momentos anteriores.

Sim, vários pedidos tão frágeis quanto esse foram feitos durante os governos de FHC e Lula, porém não prosperaram, pelo simples entendimento de que um “impeachment” é algo extremamente sério. Não é para ser invocado a qualquer momento, por qualquer motivo, como se fosse uma decisão pouco relevante. Parece-me que a população brasileira tem mais ou menos firmado o conceito de que um impedimento é uma ferramenta a ser empregada em casos extremos, que envolvam responsabilidade estritamente pessoal e que digam respeito a graves desvios, como apropriação indevida de recursos e enriquecimento ilícito. É aí que está a ligação entre a ficha corrida de Cunha e o fato de um processo como esse estar em andamento. A permanência agonizante de uma figura desse naipe em posto tão crucial foi o que permitiu o oportunismo de forças que dificilmente conseguiriam avançar até este ponto.

A peça trata de fatos ocorridos também nos governos anteriores, que tiveram suas contas aprovadas a toque de caixa há poucos meses, sem questionamentos, em mais uma manobra para chegar até a presente situação. O Tesouro Nacional é credor de altas somas das instituições bancárias para os quais os repasses foram atrasados e os atrasos não inverteram em nenhum momento essa situação, não sendo possível, portanto, que se fale em “financiamento irregular”. O que realmente assusta é o ineditismo de se tentar transformar em crime um problema de metodologia fiscal com o qual nunca se preocupou nos últimos trinta anos. Não há sequer condenação, visto que o TCU não é um tribunal de justiça, sendo responsável apenas por emitir pareceres sobre as avaliações das contas. O mais importante, no entanto, é que as contestações dizem respeito a decisões no âmbito de todo um governo, e não a atos da pessoa da presidente. Não seria melhor regulamentar abertamente o processo, deixando explícitos os níveis de tolerância, antes de partir para uma solução drástica com cheiro de oportunismo?

Todo esse cenário deixa claro que primeiro veio a intenção de derrubada do governo, o que temos visto desde o término das eleições, e depois veio a busca desesperada por um motivo que a justificasse. Mas vale mesmo a pena interferir na soberania das urnas por tão pouco e de modo tão casuísta? Que democracia restaria depois disso? Que nível de confiança teríamos no respeito às nossas escolhas?

A verdade é que não há um fato jurídico para esse tipo de intento. Há, isso sim, uma tentativa torta de passar por cima de jurisprudências, transformando uma questão de execução orçamentária em uma falsa questão jurídica, com finalidades políticas. Por isso, tenho a impressão de que quem for às ruas não encontrará apenas um lado: muita gente acha que defenderão a preservação do mandato da presidente apenas a militância tradicional, mas há organizações e pessoas que não são diretamente ligados a partidos e movimentos e que, neste momento em que a questão foi posta, também irão pressionar pela legalidade. Pessoas como eu ou como tantas outras espalhadas por aí, para as quais o governo tem sido mesmo ruim, mas que acham pouco sólidas as justificativas apresentadas para a interrupção, principalmente em relação ao que foi observado no passado. Posso estar errado, mas me parece bem claro que o final dessa história está bastante indefinido. No mais, que o processo ocorra dentro da normalidade institucional, com o devido respeito a todas as regras e condições necessárias e sem abusos e arroubos politiqueiros. E sem nunca deixar de lado que há muitos interesses obscuros por trás disso, desde a tentativa de Cunha de desviar a atenção que vem recaindo sobre suas sujeiras até o oportunismo de uma oposição que pretende usar o desespero desse mesmo Cunha para embarcar na canoa que vêm construindo com muito mal jeito desde o momento em que o resultado das urnas foi divulgado."
(08.Dez.2015)

O pessoal não precisava ter embarcado na canoa furada do Eduardo Cunha. Mas o fizeram, mesmo sabendo o que viria pela frente, em busca de propósitos pequenos e mesquinhos. Era desnecessário, mas o fizeram, e agora se envergonham: dos convocadores das manifestações (o menino imaturo e aqueles que se sustentam vendendo apitos e bonés), que tiraram uma foto “histórica” prestando homenagem ao deputado, até aqueles que o apoiaram e o defenderam com unhas e dentes, como o Pastor Malafaia (sim, o problema é que os “tuítes” nervosos ficam registrados, fazendo referência ao “salvador da moralidade e da família”). Ninguém precisava ter esperado por este último escândalo, o da propina de cinco milhões, para saber que Cunha é Cunha. Todos aqueles que acompanham um mínimo do noticiário político já conheciam o extenso e questionável histórico do deputado lobista e achacador. Alguns preferiram, no entanto, ignorar esses “meros detalhes”. E, assim, Cunha conseguiu atrair toda a sorte de oportunistas: das bancadas da bala e da bíblia e suas propostas discriminatórias à turma que insistia em tentar estimular um constante ambiente de crise institucional. E, agora que perderam os vínculos até com os industriais, o empresariado, os produtores rurais e os donos da grana em geral (e, consequentemente, com boa parte da grande mídia), que preferem tentar colocar o país nos trilhos ao invés de prolongar uma disputa eleitoreira e extemporânea, essa turminha incendiária se vê ainda mais isolada, justamente por causa desse apoio irresponsável àquele que pensava estar acima de tudo. O mais assustador, entretanto, é aquilo que corre à boca pequena nos corredores do Congresso: a informação de que os que apostam no caos têm se reunido com a finalidade de blindar Cunha, ainda visando a seus enfraquecidos propósitos golpistas. E seguem caminhando, cegos de ódio, para o funeral de suas próprias carreiras.
(25.Ago.2015)

"O fato de PT e PSDB terem votado de forma tão oposta na apreciação do projeto da terceirização não é mero fruto do acaso. É óbvio que é possível extrair daí algumas conclusões. O PSDB votou majoritariamente contra os interesses do trabalhador, junto com PMDB, DEM e outros. Já o PT, o PSOL e o PCdoB votaram integralmente contra o projeto, ou seja, a favor da preservação dos direitos trabalhistas. Partidos como o PDT e o PROS também se posicionaram em maioria contra a medida, mas não de modo unânime. Isso mostra, no mínimo, que as coisas não são tão simples quanto os “novos politizados” e as figuras mais radicalizadas querem fazer parecer. O cenário político é bem mais complexo e é um grande erro tentar reduzi-lo a um moralismo simplista e seletivo. É interessante perceber que alguns partidos ainda preservam um saudável grau de programatismo. Esse tipo de situação me faz pensar que um governo tucano, caso tivesse saído vitorioso, seria um tanto diferente do atual, no sentido negativo da coisa. Em outras matérias de caráter conservador que as bancadas BBB (boi, bíblia e bala) tentam nos empurrar a todo custo, o PT e outros partidos mais à esquerda também têm se posicionado de maneira muito sensata, geralmente mais favorável à população do que a pequenos grupos influentes. Aqui se incluem as questões da maioridade penal, da rotulagem de produtos com transgênicos, da reforma política às avessas, dos regimes de exploração do petróleo, do estatuto do desarmamento, entre outras. Por isso, já passa da hora de a sociedade aprender a tratar da Política com P maiúsculo, isto é, aprofundar-se no debate maduro das questões importantes e dos desafios postos. Para tanto, faz-se necessário abandonar o partidarismo cego e reducionista, que serve apenas para estimular um clima eleitoreiro fora de época, inócuo e sem sentido."
(06.Mai.2015)

"Tem tanta coisa acontecendo: as investigações da Lava Jato revelam um gigantesco cartel que envolve as maiores empreiteiras do país; a lista do HSBC traz à tona a criminosa sonegação praticada por uma importante parcela da elite econômica (incluindo “barões” da grande mídia); a operação Zelotes escancara as fraudes cometidas por diversas empresas do país (inclusive ligadas aos grandes grupos de mídia); escândalos atingem autoridades ligadas à administração federal e a diversos governos estaduais, dos mais diferentes partidos, inclusive daqueles que fazem ferrenha oposição à administração federal; os referenciais éticos da grande mídia, alguns deles participantes de manifestações anticorrupção, vão sendo pegos com a boca na botija, um deles denunciado por um ex-referencial-ético-da-grande-mídia, também apanhado em falcatruas; o principal candidato da oposição nas últimas eleições presidenciais é citado diretamente em sérias denúncias na delação premiada do doleiro (tem gente que acha que doleiro tem partido); descobre-se que a grana da corrupção e da sonegação recentemente descobertas irrigou as campanhas de todos os grandes partidos; um Congresso conservador atropela o bom senso e vai aprovando medidas altamente polêmicas, bem ao gosto das bancadas evangélica, ruralista, patronal e da bala. Mesmo assim, ainda tem gente fazendo campanha eleitoral até hoje e fingindo que os problemas que precisamos resolver devem-se a um único partido. E a mídia continua apresentando políticos 'ficha suja' como se fossem heróis. Isso é o que eu chamo de visão parcial."
(10.Abr.2015)

"Enquanto os 'novos politizados' xingam, batem panelas e gritam frases de efeito, o Congresso, com o perfil mais conservador dos últimos anos, vai promovendo retrocessos e votando medidas altamente polêmicas a toque de caixa, sem a merecida discussão com a sociedade. Redução da maioridade penal, regulamentação da terceirização (que, dependendo da forma como for feita, pode melhorar alguns aspectos da prestação de serviços ou destruir direitos trabalhistas e reduzir o trabalhador a uma mera variável no custo da produção), retirada do símbolo que indica a presença de transgênicos dos rótulos dos produtos (o que está relacionado ao direito de informação e de escolha do consumidor), estatuto da família (que, até agora, tem me parecido apenas um artifício para limitar os direitos dos homossexuais e dos casais homoafetivos), reforma política às avessas (a qual, ao invés de ir no sentido aparentemente reclamado pela maioria da população, pretende liberar definitivamente a doação de empresas para campanhas eleitorais, preservando o alto desequilíbrio do jogo democrático e um dos principais estímulos à corrupção entre os setores público e privado). Não estou dizendo que deva haver um alinhamento automático a um dos lados em todas essas questões. Você pode concordar ou discordar com os vários aspectos de cada uma delas. O que não pode acontecer é essa completa ausência de debate com a sociedade. Assusta-me essa miopia por parte de alguns grupos sociais, que jogam todos os holofotes sobre os efeitos de uma mera disputa eleitoreira e acabam ignorando enormes perdas que podem estar sofrendo. Fizeram o maior barulho dizendo que a "vaca havia tossido", mas não estão vendo a mesma vaca prestes a pegar uma pneumonia. Acho que já é hora de:
1) Aceitarmos o resultado das urnas, em todas as esferas (municipal, estadual e federal) e em todos os poderes (executivo e legislativo);
2) Informar-nos sobre as pautas em tramitação e estimular o debate sobre elas, acima de diferenças partidárias; e
3) Deixarmos claras nossas opiniões e posicionamentos sobre essas e outras questões importantes, mas sem desrespeitar aqueles que pensam de modo diferente.
Em meio a isso, devemos continuar a acompanhar, denunciar os abusos e exigir melhorias, tomando sempre o cuidado de não nos tornarmos marionetes nas mãos de grupos que pretendem apenas usar a indignação alheia para consolidar interesses bastante particulares. Se quer acordar, então desperte por completo e perceba que o ambiente político é bem mais amplo e complexo do que supunham seus rebeldes ímpetos iniciais."
(09.Abr.2015)

"A terceirização precisa ser regulamentada? De algum modo, sim. O trabalhador terceirizado precisa ser protegido. Mas essa regulamentação não pode trazer retrocessos ao trabalho em geral. E alguns pontos dessa regulamentação preocupam, como o fim da diferenciação da atividade-meio e da atividade-fim, permitindo a terceirização de todos os setores de uma empresa. Sem contar que o estímulo à terceirização daí resultante poderá trazer outros efeitos danosos, visto que as estatísticas demonstram que os trabalhadores terceirizados sofrem mais problemas que os demais: menores salários, mais acidentes de trabalho, maior ocorrência de condições análogas à escravidão, menor poder de organização, etc. Não deixe a simples disputa política prejudicar seus interesses. Informe-se sobre a medida. Exija que ela seja adequada para proteger o atual trabalhador terceirizado, e não para precarizar as relações de trabalho e enfraquecer a CLT."
(08.Abr.2015)

"O início do segundo mandato de FHC foi muito ruim. A crise cambial revelou uma enorme contradição entre as propostas e a realidade. Foram adotadas medidas que, durante as eleições, tinham sua necessidade negada. Na sequência, tivemos uma grave crise econômica e energética, com efeitos muito piores do que os que agora experimentamos: os juros chegaram a 45%, o desemprego explodiu (lembram-se das imagens das gigantescas filas para umas poucas vagas de gari?), a inflação ressurgiu, entre outros problemas, como recessão e arrocho. Não estou dizendo isso para minimizar os desafios que agora enfrentamos, mas apenas para lembrar que, naquela época, problemas até piores não nos conduziram a nenhum caos e nem estimularam atentados contra a democracia e a normalidade institucional. Por isso, tenho estranhado o clima golpista que alguns têm tentado promover. Mal terminou o primeiro mês do segundo mandato de Dilma, mas parece que tem gente que ainda não saiu do processo eleitoral. Ainda é muito cedo para que tenhamos a real dimensão dos resultados das medidas que estão sendo implementadas. E não devemos nos esquecer dos avanços conquistados nos últimos anos e das medidas positivas que estão sendo anunciadas para breve, como as propostas de endurecimento das leis anticorrupção, o compromisso com uma reforma política (o que não representa nenhuma garantia de sua realização, dada a aparente impermeabilidade do legislativo à ideia), o aperfeiçoamento dos programas voltados à saúde, entre outras. Acho muito perigosas essas tentativas de derrubada de um governo democraticamente eleito, ainda mais se considerarmos que a eleição deu-se há muito pouco tempo, pois isso abriria precedentes para uma interminável sequência de interrupção de mandatos, por meros interesses partidários de alguns grupos. É importante perceber que as democracias mais maduras e desenvolvidas, às quais nos referimos como exemplos a serem seguidos, não costumam recorrer a esse tipo de expediente. Ao permitir a propagação de ideias desse tipo, estaríamos nos aproximando, isso sim, de países como Honduras, Paraguai, Venezuela e outros dessa parte do globo que sofre até hoje as sequelas de regimes antidemocráticos que foram estimulados e patrocinados por nações que nunca permitiriam que o mesmo ocorresse em seus territórios. Por isso, seria muito bom se todos os agentes mais conscientes, independentemente de partidos ou de posicionamentos ideológicos, ajudassem a estimular o debate construtivo e a enterrar o ímpeto antidemocrático de alguns poucos, que até hoje não aceitam a derrota sofrida nas eleições e tentam impor sua opção eleitoral no grito, sem perceber a enorme insignificância dessa atitude frente aos verdadeiros desafios que precisamos enfrentar."
(10.Fev.2015)

"Sempre defendo a moderação. Quando o assunto é política, não acho saudável o apego incondicional a um único lado, pois, com o tempo, essa postura leva a pessoa a enxergar problemas apenas nas outras correntes. Sem contar o risco de se iniciar uma espiral em direção ao fundamentalismo, que vai ampliando cada vez mais o mergulho em uma determinada ideologia e o afastamento dos pensamentos divergentes, a ponto de não mais se admitir o saudável debate e a necessária transformação das opiniões. Quase todas as medidas em discussão nas casas legislativas possuem seus aspectos positivos e negativos. É preciso enxergá-los e analisá-los, sem radicalismo e sem esse clima de fim do mundo.

No caso da revisão da meta de superávit primário, por exemplo, é ruim a alteração de uma regra já relativamente consolidada e a abertura de precedentes, mas há também a vantagem de se evitar impactos sobre a capacidade de investimento público e, consequentemente, sobre o emprego e outras variáveis importantes. Ainda mais num cenário em que, dos vinte países do G20, dezessete estão prestes a fazer déficit fiscal. O Brasil é um dos três que deve fazer superávit (o que o governo está pedindo é para que esse superávit seja menor). Nos últimos anos, comparado aos principais países da América Latina e aos do G20, o Brasil está entre os cinco com superávits mais elevados, desde 2010.

Ressalto apenas que é preciso evitar a tentativa de uso político da medida, tanto por quem a defende quando por quem a critica. Afinal, o que importa é o que é melhor para a população. Acompanhemos, fiscalizemos, cobremos. Mas sem ímpetos golpistas, que fazem enxergar fantasmas por toda parte. Quando foram revistas as dívidas de estados e municípios na semana passada, prejudicando, inclusive, as contas da União, pouco gente reclamou, justamente devido à possibilidade aberta para a ampliação dos investimentos por parte de prefeituras e governos estaduais.

Dizer que os poucos manifestantes que tumultuaram a sessão representam o conjunto da população é um exagero desmedido. A imprensa noticiou que a maioria deles foi levada até ali por deputados oposicionistas, como parte da estratégia de evitar a votação. Ao invés de pressionar pelo resultado que queriam, preferiram usar o espaço que ocupavam para fazer acusações nada imparciais contra os partidos governistas, pedir o “impeachment” da presidente e gritar palavras de ordem sem sentido como “volta pra Cuba” (o que isso tem a ver com o projeto em votação?). Defendo veementemente a presença da população no parlamento, mas é preciso tomar cuidado com distorções que visam unicamente à exploração política, no rastro de um processo eleitoral que se encerrou há pouco. Vamos debater sim, mas desde que haja uma abertura verdadeira para a revisão de opiniões e para a conciliação. E, o mais importante, desde que o objetivo seja a construção de um país melhor, e não o simples partidarismo."
(03.Dez.2014)

"Você se sente incomodado quando vê demonstrações de carinho entre pessoas do mesmo sexo e, por causa disso, quer impedi-las nos ambientes que frequenta? Deixa de frescura, seu boiola! Os homossexuais estão a todo tempo enfrentando olhares tortos e até violência, simplesmente por expressarem seus sentimentos, como qualquer outra pessoa, e você fica aí com nojinho? Deixa de ser baitola! Não tem coisa mais importante pra fazer além de se preocupar com as preferências afetivas dos outros? Acha que o seu desconforto lhe dá o direito de discriminar? Repense suas atitudes, seu afrescalhado! Trabalhe essa sua alta sensibilidade a fim de direcioná-la para coisas mais nobres ou veja logo se essa preocupação toda não é apenas vontade de vivenciar novas experiências!"
(03.Set.2013)

"Quer mesmo contribuir com o debate político, com vistas a tornar o país melhor para todos? Então aprenda a ler textos com mais de cento e poucos caracteres... Que contenham mais palavras do que cabem num cartaz... E que vão bem além de frases irônicas sobrepostas a imagens engraçadas."
(19.Ago.2013)

"Não entrarei no mérito da PEC-37, mas nenhuma proposta merece ser votada sob tamanha pressão, principalmente se considerarmos que uma enorme parte das pessoas que empunharam os cartazes contra a mesma sequer sabiam do que se tratava, ou não conheciam os detalhes e o contexto. Se a questão seduziu boa parte da população, o debate também deveria ter seduzido, até para que ficasse claro que democracia também é isso: debate. E também para incentivar a busca do conhecimento nesses tempos em que as pessoas estão dispostas a, finalmente, se politizarem. Creio que tenha havido uma simplificação do conteúdo da proposta, em maior ou menor grau. O próprio Ministério Público participava de reuniões, em busca da melhor alternativa para o problema endereçado. A OAB apoiava. A rejeição foi importante, pois serviu de símbolo da sensibilização da classe política pelas vozes da população, mas a atuação do MP ainda carece de regulamentação (talvez não como sugerido pela PEC). Espero apenas que evitemos a interdição de futuros debates importantes ou, simplesmente, válidos. Sabemos que alguns setores possuem maior poder de influência do que outros. Por isso, incentivemos o debate! O fortalecimento da democracia passa por isso e, se queremos mesmo uma sociedade mais madura, precisamos estimular a compreensão dos mais diferentes pontos de vista. Caso contrário, o que teremos será sempre uma massa manobrável, ora a serviço de alguns grupos, ora a serviço de outros."
(01.Jul.2013)

"Existem radicais na direita e na esquerda, mas também existem muitas pessoas com posicionamento equilibrado em ambos os lados. A maioria da população, entretanto, não é muito ligada aos assuntos políticos e acaba tornando-se presa fácil daqueles radicais. O radicalismo não está apenas no vandalismo e na violência, mas também nas mentiras divulgadas insistentemente, principalmente nas redes sociais. Muitos não gostam de Dilma devido a informações falsas que tomaram por verdade, como fechamento do Facebook, fim da polícia, comunismo, terrorismo, envolvimento em corrupção, declarações maldosas sobre professores, além de outras ilações e informações deturpadas. O mesmo vale para outras figuras públicas. O compartilhamento de mentiras não ajuda em nada a democracia. Se não tem certeza sobre a veracidade, não compartilhe. Procure informar-se mais sobre o mundo da política, mas varie as fontes e tente identificar as mais confiáveis (a grande mídia, muitas vezes, também comete seus excessos). Todos são livres para escolher os candidatos de sua preferência, mas seria muito bom se isso fosse feito com base no que é verdadeiro."
(25.Jun.2013)

"Acho que agora já é hora de alguns saírem das ruas e voltarem para as salas para planejar as soluções. Afinal, uma vez dada a mensagem, esta será a parte mais difícil. Haverá ainda menos consensos. Todos são contra a corrupção, mas como será a reforma política? Financiamento público? Voto em lista? E o marco regulatório da mídia? A PEC-37 é mesmo tão simples quanto andam dizendo ou nem é tão absurda assim? Legalização da maconha ou internação compulsória? Sim, amigos, política não é nada fácil. E viva a democracia!"
(20.Jun.2013)

"As atuais manifestações podem representar o início de um extenso caminho, ao longo do qual teremos a oportunidade de construir um novo modelo de sociedade. Para tanto, será necessário aproveitar muito bem o clima que está posto. Mas é um projeto de longo prazo, que demandará um tanto de paciência e comprometimento. Infelizmente, existem pessoas que pretendem reduzir tudo isso a uma simples questão eleitoreira ou partidária tradicional. As eleições estão chegando: faremos nossas escolhas democraticamente. Mas agora já estamos falando do curto prazo. Dilma poderá até ser reeleita (e, dentre as opções que se apresentaram até agora, é a que tenho considerado a mais adequada), mas só quem não aprendeu a respeitar a democracia poderá ver nisso um problema extraordinário, que justifique uma investida contra a normalidade institucional. É inacreditável a quantidade de mentiras e distorções que passaram a circular pelas redes sociais, tudo para tentar pegar carona em uma onda que não tem nada a ver com isso! Ninguém verifica nada antes de compartilhar? Assusta-me tamanha desinformação! Penso que a solução capaz de atender aos anseios atualmente externados necessita da mudança de postura dos indivíduos (de todos eles, e não apenas dos representantes, que são o que são porque fazem parte da mesma sociedade que todos os demais), mas ela está mesmo é no fortalecimento e amadurecimento das instituições democráticas."
(19.Jun.2013)

"Você acha mesmo que todos esses manifestantes estão nas ruas apenas para ajudar a eleger os candidatos que você prefere? Abaixe a bandeira do partido e guarde o santinho! Ou já pra casa!"
(18.Jun.2013)

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